Uma análise crítica de uma representação visual da história
A network framework of cultural history é uma experiência visual desenvolvida em 2014 por Maximilian Schich, Chaoming Song, Yong-yeol Ahn, Alexander Mirsky, Mauro Martino, Albert-László Barabási e Dirk Helbing, cujo foco é demonstrar uma visualização de dados da história cultural em escala global. Tal experiência se resume a uma animação que apresenta o nascimento, locomoção e falecimento de pessoas importantes para a história humana, simbolizados com uma linha azul e vermelha.
O design
A primeira coisa a se reparar, dado o fato do projeto ser uma visualização de dados, é justamente o design escolhido para apresentá-los. Ao meu ver, a aparência da animação é minimalista, o que contribui para a compreensão das imagens que estão sendo apresentadas. O fato do mapa ser em escala de cinza e as linhas coloridas foi uma boa escolha, já que elas são o foco da animação como um todo, com a transição do azul para o vermelho em cada linha sendo uma decisão eficiente para diminuir a quantidade de linhas existentes.
No entanto, os nomes presentes na animação são difíceis de serem visualizados, dada a sua cor, e o período em que passa cada segundo, presente no canto superior esquerdo, é pequeno demais e não chama a atenção, o que prejudica o objetivo do projeto. Além disso, é um pouco frustrante como a experiência visual não pode ser vista por completo, já que animação apresenta pequenos fragmentos individualmente. Creio que seria mais interessante se esse projeto fosse interativo, ao invés de ser uma animação narrada.
Imagem 1: Cena da animação.
O objetivo e a problemática do projeto
É nítido que A network framework of cultural history tem objetivos educacionais, mostrando pessoas de grande influência na história do mundo, revelando os padrões da locomoção humana e relações interculturais. Tal conceito é muito interessante ao se considerar a importância da compreensão e conhecimento da nossa história, podendo ser muito útil não só para cenários educacionais como também de pesquisa.
Mesmo assim, vale ressaltar a problemática que esse projeto apresenta. Ao falar que "A network resultante das localizações providencia uma perspectiva macroscópica da história cultural", dá-se a ideia de que ela demonstra a história da humanidade, mas infelizmente, não é o caso. O abstrato do artigo do projeto diz, logo em seguida:
"[...] o que nos ajuda a refazer narrativas culturais da Europa e América do Norte, usando ferramentas de visualização em larga escala e dinâmicas quantitativas, e a derivar tendências históricas de centros culturais além do alcance de eventos específicos ou intervalos pequenos de tempo." (tradução nossa).
Pode-se afirmar então que, mesmo com uma boa ideia, objetivo e representação visual, a parte da pesquisa do projeto mostra-se eurocêntrica, desvalorizando a história cultural e influência global da África, América Latina e Ásia, especialmente ao excluir esses continentes dos "centros culturais" citados.
E, caso de fato esse projeto apresentasse a história mundial, o processo de pesquisa revelaria ainda mais o eurocentrismo presente em nossa sociedade. Digo isso por crer que, na tentativa de coletar dados sobre a América Latina e a África, por exemplo, a distorção e omissão da história desses continentes por parte do pensamento eurocêntrico iria dificultar a coleta de dados.
Em suma, A network framework of cultural history é um projeto que tem uma função bem útil, mas que peca em sua definição, já que não se trata de uma história cultural global, e sim, europeia. Seria extremamente interessante se esse projeto fosse recriado ou adaptado por outros, para não só abordar a história cultural da África, América Latina e Ásia, como também para implementar interação à experiência como um todo.
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